Elementos do Design (Composição II)
Oi gente. Segue o baile em nosso mini estudo de composição. O artigo anterior, Pra onde aponto minha câmera, tratou de estabelecer um ponto de partida para compreendermos sobre composição nas imagens, de forma que nos ajude a criar imagens bonitas.
Sugeri a gente criar um mindset, arrumar alguma técnica que nos guie. Na verdade o mais importante ao compor um quadro, ao meu ver, são aquelas primeiras perguntas do texto (o quê? por quê? etc). Mas, uma vez que eu acredito que essas questões se relacionam fortemente com linguagem cinematográfica, tomei o rumo mais cru de estabelecer composições utilizando alguns aspectos da Gestalt e Design. Terminei dizendo que íamos começar a dar uma olhada no Design.
Os elementos do Design são os seguintes:
No estudo do Design, existem os elementos do Design. É uma categorização das coisas mais elementares que existem em nosso mundo tridimensional. Pois, acredito eu, tudo parte da visão. E a visão humana tem muitos aspectos que podemos debater. O que me vem à mente comentar é que a visão, a formação de imagens, possui dois elementos básicos. Não é o olho que forma a nossa visão. O olho é uma “lente e câmera”. Foca objetos, fotometra a quantidade de luz. Capta a “imagem” para o nervo ótico levar os impulsos para o cérebro, onde realmente a verdadeira imagem é formada. Pois uma imagem nunca é apenas uma simples imagem. Uma imagem sempre tem um sentindo. A função do cérebro é sempre analisar os estímulos externos e categorizá-los.
Ao escrever sobre esse assunto lembrei do livro do neurocientista Gerard Edelman. A Universe of Consciousness: how matter becomes imagination (Um universo de consciência: como a matéria se torna imaginação). É um livro de neurobiologia pesada sobre a fisiologia da consciência humana. Neste livro há um conceito importante. O cérebro possui grupos de neurônios que reconhecem elementos básicos bidimensionais e interagem entre si para formar a imagem mental. Bem além disso, para a formação de qualquer imagem, outras partes do cérebro são acessadas. O sistema límbico, relacionado às emoções. O tronco cerebral, relacionado às necessidades fisiológicas fundamentais. Também o sistema de memória é acessado, para pesar e categorizar determinada imagem.
Com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
O resumo do que falei é: as imagens são formadas em nosso cérebro. No nível inconsciente, grupos de neurônios reconhecem retas, ângulos, pontos, contraste, cor. Primeiro de forma elementar. Ao mesmo tempo, essa informação é pareada com nossa experiência e necessidades. Bem além de servir como curiosidade, serve para a gente ter consciência do que estamos fazendo. E ter consciência do que se está fazendo é o objetivo. Por exemplo. Como a música do Toquinho diz, com cinco ou seis retas você pode fazer um castelo, não é mesmo? Daí você pode perguntar: “Cris, como isso me ajuda a compor melhor, além, claro, de saber fazer um castelo com retas.”. Ótima pergunta. Digamos que você vai fotografar uma noiva. (todo mundo já viu uma foto de ensaio de noiva, não é?). O fotógrafo então pega o véu e estica. O intuito dele é fazer uma foto bonita. O que podemos analisar e pensar: no ato de esticar o véu, ele não inseriu um elemento de Design? Eis o meu ponto. Ele criou, do nada, um elemento. Uma linha. O véu esticado cria uma linha em nosso quadro.
Nesse exemplo hipotético (bem prático pra dizer a verdade) a intenção do fotógrafo poderia ser mostrar o véu. Mas poderia ir além. Uma vez que ele foi lá e clicou o momento e percebeu a linha, opções criativas podem saltar aos olhos. Linhas guiam o olhar. Ainda vamos discutir esse tipo de coisa, a menção aqui é para dar um sentido na análise de elementos do Design. Ele poderia então pedir ao noivo ficar mais atrás dela (no sentido do plano de fundo) e segurar o véu para criar a linha novamente. O fotógrafo poderia pedir para os dois se olharem. Teríamos duas linhas agora. Uma do véu guiando nosso olhar da noiva para o noivo. E uma outra linha, consequente desta: a linha do olhar. Ou seja, reforçaríamos na verdade a linha do olhar com essa reta formada pelo véu. Bom, eu não tenho um exemplo, uma fotografia com essa situação para ilustrar. Foi um exemplo que criei na minha mente para demonstrar que perceber os elementos do Design não é só um conceito fundamental, obrigatório e depois não se usa mais. Tente imaginar. A fotografia nessa situação não seria bem bacana? Não teria fortes elementos de composição e mensagem? E partimos de algo tão elementar: criamos uma simples linha onde não havia.
Continuaremos o estudo mais aprofundado. Mas, pelo momento, talvez seja hora de começar a enxergar os elementos do Design no nosso dia a dia. Onde tem retas, pontos, formas distintas e cores. Nosso cérebro, como eu expliquei, faz isso automaticamente e a habilidade de descompor o “todo” em suas partes pode nos ajudar a manipular nossas imagens de forma mais eficiente. Próximo artigo eu vou mostrar como os elementos se organizam com os Princípios do Design.
Para lembrar
* Ver e enxergar são coisas distintas. Uma imagem nunca é só uma imagem. Ela sempre tem uma interpretação.
* Você deve saber quais são os elementos do Desing para criar elementos que deseje do seu quadro